Artigo publicado no número 31 (2020) da Revista Geografares (UFES).
A finalidade deste artigo é extrair da pandemia de COVID-19 uma lição profissional para os geógrafos: sem pretender (ou poder) voltar ao passado, é necessário revalorizar, contudo, a própria quintessência da identidade do discurso geográfico, que é um modo de construção do objeto de conhecimento comprometido com um diálogo entre pesquisa social (representada pelo que usualmente chamamos de “Geografia Humana”) e pesquisa natural (representada pelo que costumeiramente denominamos “Geografia Física”). Essa revalorização, presentemente denominada “ambientalização”, não almeja nada de excessivamente ambicioso: não se advoga nenhuma tese excludente no estilo “a Geografia deve ser isso, e nada diferente disso”; apenas se defende a ideia de que um enfoque como a da Geografia Ambiental, derivado de um esforço de “ambientalização”, deve ter seu lugar assegurado. A Geografia Ambiental, empenhada na construção de objetos de conhecimento híbridos, nos faculta mobilizar as interfaces e os conhecimentos necessários para lidar com tarefas complexas como – entre muitas outras – a análise dos efeitos de curto e longo prazo da pandemia. O projeto da Geografia Ambiental, contudo, não apenas tem de fazer face a desafios intelectuais (integrar quais conhecimentos, como e com que finalidade?) como, no fundo, esbarra em obstáculos políticos: as relações de poder no mundo acadêmico e o zelo com que “fronteiras” são patrulhadas e “territórios” são defendidos, para não falar da resistência de muitos pesquisadores em sair de suas zonas de conforto temáticas e teórico-metodológicas.
Artigo completo disponível em: A pandemia e a “ambientalização” da Geografia