As associações científicas e redes, abaixo assinadas, vêm a público manifestar solidariedade e preocupação com a situação da professora e pesquisadora Drª. Larissa Mies Bombardi diante de uma série de ameaças e ataques que vem sofrendo em decorrência das suas pesquisas.
Larissa Bombardi, geógrafa de formação, notabiliza-se como uma das mais importantes pesquisadoras sobre o tema dos agrotóxicos e seus impactos na sociedade e território. Suas pesquisas dialogam com várias áreas do conhecimento a respeito do processo de devastação ambiental causada pelo uso intensivo de agrotóxicos e tornaram-se referência nacional e internacional. Os resultados dos seus estudos contribuem para a compreensão de fenômenos que parecem pairar por todo o Brasil nas áreas de monoculturas e aplicações de pacotes tecnológicos do chamado setor agroalimentar e fármaco-químico: intoxicação de trabalhadorxs, contaminação dos alimentos, relação com aparecimento de cânceres, alterações genéticas e nascimentos com malformação, envenenamentos dos solos e das águas, etc.
Como é de conhecimento público, o Brasil é, há mais de 10 anos, o campeão mundial em quantidade de agrotóxicos aplicados na agricultura. Isso leva a concluir que envolve um mercado bilionário e interesses com enorme força política e econômica, ao passo que todas as pesquisas que se situam ao lado da crítica e denúncia aos impactos devastadores desses agroquímicos passaram a ser combatidas de diferentes formas pelas empresas do setor, pelo agronegócio em geral e por representantes do Estado.
Muitos pesquisadores e pesquisadoras passaram a sofrer perseguições, ameaças, assédios, processos judiciais e campanhas de desmoralização devido ao resultado de suas pesquisas científicas – sendo que essa realidade não é exatamente recente, mas potencializada na atual conjuntura. Atacar a ciência passou a ser o modus operandi de muitas frações da sociedade, de determinadas empresas e do governo federal cotidianamente. O caso da professora e pesquisadora Larissa Bombardi é mais um entre tantos, contudo reveste-se de preocupação e convoca a solidariedade devido à importância social e imediata do seu trabalho científico. Larissa Bombardi, cientista, mulher e mãe vêm sofrendo uma série de ameaças, principalmente depois da publicação do seu Atlas “Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia”.
Este episódio é mais um reflexo dos constantes ataques ao conhecimento científico, que é reverberado no Brasil através dos cortes dos recursos destinados à educação e a pesquisa e por meio da disseminação de Fake News, processos os quais se intensificaram em
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tempos de pandemia da COVID-19. Reiteramos que somos contrários a qualquer forma de repressão e criminalização da ciência.
As graves ameaças e a pressão psicológica levam a pesquisadora a tentar deixar o país. É diante dessa gravidade, que manifestamos solidariedade, apoio e oferecemos uma rede de proteção a Larissa Mies Bombardi.
Brasil, 22 de março de 2021.
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA (ANPEGE)
ASSOCIAÇÃO DOS GEÓGRAFOS BRASILEIROS (AGB)
REDE IRERÊ DE PROTEÇÃO À CIÊNCIA
FÓRUM DAS CIÊNCIAS HUMANAS, SOCIAIS, SOCIAIS APLICADAS, LETRAS, LINGUÍSTICA E ARTES (FCHSSALLA)
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE AGROECOLOGIA (ABA)
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE REFORMA AGRÁRIA (ABRA)
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE ENTIDADES DE GEOGRAFIA (CONEEG)
UNIÃO GEOGRÁFICA INTERNACIONAL (UGI – COMISIÓN DE ESTUDIOS LATINOAMÉRICANOS Y CARIBEÑOS)
GRUPO DE TRABALHO PENSAMIENTO GEOGRÁFICO CRITICO LATINOAMERICANO (GT – CLACSO)
CONSELHO LATINO-AMERICANO DE CIÊNCIAS SOCIAIS (CLACSO)
FRENTE LATINO-AMERICANA E CARIBENHA EM LUTA PELA DEMOCRACIA E PELOS POVOS
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