A Associação das Geógrafas e Geógrafos Brasileiras e Brasileiros (AGB), a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia (Anpege) e a vice-presidência da União Geográfica Internacional (UGI) para a América Latina e Caribe promoveram, durante o XX Encontro de Geografias da América Latina e Caribe (EGALC), um importante espaço de diálogo e articulação sobre os desafios e perspectivas da Ciência Geográfica na região. O evento ocorreu na Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM), entre os dias 16 e 20 de junho de 2025, e contou com a participação de representantes de diversas entidades e países, incluindo Brasil, México, Colômbia e República Dominicana.
A reunião, realizada em 18 de junho, teve como objetivo principal fortalecer a Geografia latino-americana, promovendo a troca de experiências e a construção de uma agenda conjunta de debates e ações. Entre os temas centrais discutidos, destacam-se a situação da Ciência Geográfica nos diferentes países, o fortalecimento da participação regional na UGI, a criação de comissões regionais da UGI para a América Latina e Caribe, o mapeamento das associações de Geografia na região, o desenvolvimento de pautas coletivas e propostas de publicações científicas.

Foto: Igor Alencar
Os debates foram ricos e propositivos, resultando em importantes encaminhamentos que visam impulsionar a cooperação acadêmica e institucional, promover a ética na publicação científica e fomentar o debate sobre a Ciência Aberta, como contraponto aos modelos de avaliação científica impostos e externos.
A seguir, apresentamos o relato completo da atividade, detalhando os pontos abordados e as ações propostas para o fortalecimento da Geografia em nossa região.
Relato de atividade
Relato da atividade organizada pela Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB), pela Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia (Anpege) e pela vice-presidência da União Geográfica Internacional (UGI) para América Latina e Caribe durante o XX Encontro de Geografias da América Latina e Caribe (EGALC), realizado na Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM) no período de 16 a 20 de junho de 2025.
Representantes da AGB: Lorena Izá Pereira (presencial); Igor Carlos Feitosa Alencar (presencial) e Charlles da França Antunes (virtual).
Representantes da Anpege: Gustavo Cepolini (presencial) e Patrícia Rocha (virtual).
Representantes da UGI: Bernardo Mançano Fernandes (presencial) e Ruben C. Lois González (presencial).
Países participantes: Brasil, México, Colômbia e República Dominicana.
Data: 18 de junho de 2025 (9h às 12h; 15h às 17h).
Pauta:
A pauta foi previamente definida em reunião entre os(as) representantes de cada entidade, com abertura para a inclusão de novos pontos a partir das sugestões e demandas apresentadas pelos(as) participantes.
- Apresentação do espaço: O encontro foi concebido como um espaço de troca de experiências e de fortalecimento da Geografia na América Latina, com ênfase no papel das associações científicas. Ressaltou-se a importância de considerar as particularidades de cada país e localidade, bem como a possibilidade de construção de uma agenda conjunta de debates e ações.
- Condições da Ciência Geográfica na América Latina: Cada participante compartilhou um relato sobre a construção da Ciência Geográfica em seu respectivo país, permitindo um panorama da diversidade de contextos e dos desafios, incluindo aqueles que são comuns a diferentes países.
- Fortalecimento da participação na UGI: Foi debatida a necessidade de ampliar e consolidar a participação dos países da América Latina e Caribe na Comissão Regional da União Geográfica Internacional (UGI).
- Criação de comissões da UGI América Latina e Caribe: Discutiu-se a proposta de criação de comissões regionais da UGI voltadas para a América Latina e Caribe, com vistas a ampliar a representação e o protagonismo regional.
- Mapeamento das associações de Geografia da América Latina e Caribe: Propôs-se o mapeamento sistemático das associações de Geografia da região como estratégia para promover o intercâmbio, a articulação e o fortalecimento institucional.
- Fortalecimento de pautas coletivas e articulações: Debateram-se formas de fortalecer agendas comuns e articulações políticas, acadêmicas e científicas entre os países da região.
- Propostas de publicações: Foram apresentadas propostas para a publicação de livros coletivos e para o fortalecimento de revistas científicas na área, visando ampliar a visibilidade da produção geográfica latino-americana.
- Publicações científicas: Fortalecimento do Manifesto da Geografia pela Ética na Publicação Científica, construído pela AGB.
Encaminhamentos:
- Fortalecimento da participação na UGI: Uma das estratégias para ampliar e consolidar a participação dos países da América Latina e Caribe na Comissão Regional da União Geográfica Internacional (UGI) é o fortalecimento das entidades de Geografia de cada país, por meio do incentivo à realização de encontros nacionais e à criação de espaços de debate. Propõe-se que tais encontros incluam atividades específicas (como mesas-redondas, grupos de trabalho, entre outros) voltadas à discussão da Geografia na América Latina.
- Criação de comissões nacionais da UGI: Estimular a criação de comissões nacionais da UGI América Latina e Caribe, preferencialmente articuladas às associações científicas e às universidades de cada país.
- Mapeamento das associações de Geografia: Realizar um mapeamento atualizado das associações de Geografia da América Latina e Caribe. Esta ação já está em curso por meio da comissão da vice-presidência da UGI para a região.
- Publicação: Iniciar a construção de um livro coletivo sobre a Geografia na América Latina e Caribe, em parceria com a China, com previsão de tradução da obra para o mandarim, visando ampliar o intercâmbio científico entre as regiões.
- Cooperação acadêmica e institucional:
- Apoiar a criação de programas de pós-graduação em Geografia em países onde ainda não há oferta estruturada, como já ocorre no Paraguai e na Bolívia, com acompanhamento da UGI.
- Atentar aos editais de agências de fomento que possibilitem cooperação científica internacional, como o recente edital conjunto CNPq (Brasil) e CONICET (Argentina).
- Promover encontros virtuais com universidades de menor porte, visando o fortalecimento da rede regional de cooperação.
- Avaliação científica e ética editorial: Com base no Manifesto da Geografia pela Ética na Publicação Científica (AGB) e nos debates promovidos pelo Foro Latinoamericano sobre Evaluación Científica (FOLEC/CLACSO), será organizada uma base de informações sobre os critérios e políticas de avaliação científica (periódicos e programas de pós-graduação) nos países latino-americanos. O objetivo é identificar convergências e divergências entre os modelos, de modo a subsidiar, futuramente, a formulação de políticas avaliativas específicas para a Geografia na América Latina, desvinculadas de métricas externas e impostas.
- Promoção da Ciência Aberta: Fomentar o debate sobre Ciência Aberta em toda a região como contraponto ao modelo de “ciência de prestígio”, centrado na produção científica do Norte Global e no idioma inglês como critério exclusivo de relevância e qualidade. Propõe-se a abordagem dos temas “Ciência Fechada e Exclusão” e “Ciência Aberta e Inclusão” (títulos provisórios) como eixos centrais de discussão.
- Base de periódicos e política editorial regional: Construir uma base abrangente com todas as revistas científicas de Geografia da América Latina e Caribe, com vistas à futura criação de um repositório regional e à proposição de políticas editoriais comuns. Essa demanda, já identificada na reunião de entidades de Geografia durante o XVII EGAL (Quito, 2019), contou com um levantamento inicial realizado pela AGB, disponível no site da entidade.
- Boletim UGI América Latina e Caribe: O relatório desta reunião será publicado como primeiro número do Boletim UGI América Latina e Caribe. O mesmo será organizado pela comissão da vice-presidência da UGI para a região.
Avaliação geral:
O espaço revelou-se de grande importância para o debate sobre a Geografia na região, especialmente ao considerar tanto as particularidades quanto os elementos que nos unem enquanto Geografia latino-americana. Um dos aspectos que chamou a atenção dos(as) participantes foi a queda na procura pelos cursos de graduação em Geografia, uma tendência que não se restringe ao Brasil. Também foi destacado o acirramento da histórica dicotomia entre a Geografia Humana e a Geografia Física, que, em alguns contextos, tem resultado na criação de cursos específicos de Geografia Aplicada, como já observado no México. Outro ponto recorrente nas discussões foi a percepção de que a sociedade, de modo geral, desconhece o papel e as atribuições do(a) geógrafo(a), o que contribui para a desvalorização da Ciência Geográfica.
O espaço se consolidou como um momento propositivo, permitindo avançar em articulações voltadas à construção de alternativas aos modelos de avaliação científica atualmente vigentes — modelos estes frequentemente impostos, que desconsideram as realidades locais e reforçam desigualdades estruturais por meio de um colonialismo epistêmico. Nesse sentido, reafirmou-se a importância de promover uma ciência geográfica politizada, situada, com propósito e socialmente comprometida, respeitando as especificidades de cada país, mas também construindo pontes de cooperação solidária entre os povos da América Latina e Caribe.
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