JUSTIÇA PARA NEGO BETO! AGB Porto Alegre
A Associação dos Geógrafos Brasileiros – Seção Porto Alegre (AGB-PoA) exige justiça para o assassinato de João Alberto Silveira Freitas, ocorrido na noite de 19 de novembro de 2020, no Supermercado Carrefour da Zona Norte de Porto Alegre. Ao mesmo tempo, se solidariza com familiares, amigos(as) e companheiros(as) de Nego Beto, e se soma e se coloca ombro a ombro mais uma vez com os movimentos negros de Porto Alegre, bem como de outras cidades no Brasil e no mundo.
Este triste, revoltante e indignante episódio escancara o racismo estrutural presente na sociedade e no espaço. Porto Alegre é a capital brasileira com maior segregação racial, e seu território expõe cotidianamente a racialização das mortes e das demais situações de violência e opressão contra a população negra. Os processos históricos e geográficos que resultaram em tal segregação revelam que a cidade cresceu expulsando as populações de origem africana dos bairros mais centrais para as periferias mais distantes, num processo planejado e ordenado que sempre hostilizou as comunidades negras, reforçando estigmas e preconceitos presentes ainda hoje. A história e a geografia de Porto Alegre são a história e a geografia do racismo institucional e estruturalmente espacializado. Não por acaso o Carnaval das escolas de samba (com sua profunda tradição popular) foi jogado para uma área distante do centro na Zona Norte, enquanto a elite branca comemora o “Saint Patrick’s Day” na área nobre, com apoio do poder público. Em uma cidade com mais de 20% de população negra e com profundas marcas quilombolas (a capital brasileira com maior quantidade de quilombos urbanos autorreconhecidos, em processo de titulação ou titulados, e a primeira a lograr a titulação de um quilombo em área urbana), o racismo fica ainda mais explícito quando lembramos que o Dia da Consciência Negra foi rejeitado como feriado pela Câmara de Vereadores e, num episódio recente, um vereador derrotado nas eleições municipais vomita ódio e discriminação contra vereadores(as) negros(as) recém eleitos(as). No estado do Rio Grande do Sul como um todo, a presença negra é extremamente marcante e atuante, em que pese as tentativas de apagamento e silenciamento de suas lutas e seus legados à cultura e à sociedade, no tempo e no espaço.
A necropolítica estatal-capitalista é profundamente racializada e espacializada, sabemos. Justamente por isso, neste 20 de novembro a AGB-PoA retoma os trabalhos de associados e associadas, geógrafos e geógrafas, professores e professoras, que lutam cotidianamente contra o racismo e dão grande contribuição ao estudo das geografias negras em Porto Alegre e no Rio Grande do Sul. Poderíamos citar os premiados trabalhos de Daniele Vieira sobre os territórios negros de Porto Alegre, a busca de uma educação antirracista na periferia, de Bruno Silveira com o projeto ‘Quilombonja’, ou no Quilombo dos Alpes, com Winnie Ludmila Dobal, ou ainda o estudo do feminismo negro e espaço, de Larissa Oyarzabal. Há muitas outras contribuições de agebeanos e agebeanas nas lutas antirracistas. E não poderia ser diferente. Em uma cidade que viu surgir o poeta Oliveira Silveira, o compositor Lupicínio Rodrigues, a mestra griô Maria Elaine e muitos e muitas outras personagens marcantes da cultura brasileira, e que tem inúmeros territórios negros em seu tecido urbano, como a Ilhota, o Areal da Baronesa, a Colônia Africana, o Quilombo dos Silva e muitos outros, nada mais lógico que a seção local da Associação dos Geógrafos Brasileiros se manifestar e lembrar que Porto Alegre vai virar Palmares, hoje e sempre.
Associação dos Geógrafos Brasileiros – Seção Porto Alegre
Vinte de novembro de 2020.
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