MOÇÃO CONTRA A NOVA OFENSIVA DO AGRONEGÓCIO SOBRE A EDUCAÇÃO
Um grupo de mulheres ligadas ao agronegócio, que se autointitulam “mães do agro”, iniciou em 2020 uma campanha denominada “De olho no material escolar”. Num contexto do ensino remoto, elas disseram perceber que havia em muitos materiais didáticos mentiras sobre a realidade do campo brasileiro, com críticas indevidas ao agronegócio. Iniciaram assim uma ampla movimentação visando pressionar escolas e editoras a alterar os materiais didáticos e o próprio Ministério da Educação a rever orientações curriculares na forma como o agronegócio é tratado nos currículos e nos materiais didáticos.
As líderes da campanha “De olho no material escolar” se articularam com parlamentares da Bancada Ruralista (cujo nome oficial é Frente Parlamentar da Agropecuária – FPA), que representa os interesses do agronegócio no Congresso Nacional, com os ministérios da Agricultura e da Educação, secretarias estaduais e municipais de educação e entidades do agronegócio.
Alinhado a essas investidas institucionais, esse grupo também possui ligação com outras iniciativas de produção de materiais alternativos que segundo eles estariam focados em contar a verdade quanto ao agronegócio, se utilizando de estratégias como concursos, competições, numa espécie de “barganha” incentivadora direcionada tanto aos estudantes quanto a docentes e a escola como ente, para que esse discurso possa penetrar no ensino. Surgiu inclusive neste ano, a proposta de um selo de qualidade que certificaria que os materiais estariam livres dessa abordagem considerada incorreta.
As informações elencadas acima, obtidas a partir de pesquisas realizadas em redes sociais, pelo GTAgrária das AGBs Rio e Niterói, revelam uma profunda articulação de setores do agronegócio para disputar o sentido da educação realizada no Brasil. Trata-se de uma disputa ideológica profunda, cujo objetivo é aprofundar a hegemonia do agronegócio, afirmando-o como um dos pilares da economia e da sociedade brasileira, e silenciando qualquer perspectiva crítica sobre as implicações econômicas, sociais e ambientais.
Buscam, através da campanha “De olho no material escolar” a todo custo impedir que nas escolas públicas e particulares se debata sobre desmatamento e queimadas, sobre trabalho escravo e superexploração do trabalho, sobre concentração fundiária, da riqueza e da renda, sobre a violência no campo, como se tudo isso fosse coisa do passado e não existisse mais no campo brasileiro, no qual reinaria o agro pop, tech, tudo…
Diante da gravidade da ofensiva, urge que professores, professoras, movimentos sociais e sindicais, associações científicas e educacionais, incluindo a AGB, reajam, pois o que está em jogo, para além da preservação da liberdade de professores e professoras, é o próprio debate sobre o papel social da educação: se uma educação pública e democrática ou se uma educação a serviço de interesses particulares de um dos segmentos mais retrógrados da sociedade brasileira, disfarçado sob o verniz das tecnologias mais modernas.
Fortaleza/CE, 21 de julho de 2023.
Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB)
Moção disponível na íntegra: MOÇÃO CONTRA A NOVA OFENSIVA DO AGRONEGÓCIO SOBRE A EDUCAÇÃO
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