Manoel da Conceição, presente!

Manoel da Conceição: lavrador, camponês, maranhense aguerrido, educador do campo, pensador da luta por igualdade e reforma agrária

 

Mané da Conceição continuará vivo no coração daqueles que lutam por direitos humanos e justiça no campo. Hoje, nos despedimos da sua presença física, lamentamos a sua partida e nos solidarizamos com os familiares e amigos e geógrafos. Perseguido, preso e torturado durante a Ditadura Militar, Manoel da Conceição, foi um dos maiores articuladores da luta camponesa no Brasil. A sua sabedoria o fez mais um grande mestre. Durante sua vida, ele acreditou e lutou para que a terra fosse livre para todas e todos! Deu o primeiro passo fundando associações, escolas rurais, sindicatos e partido político no Maranhão.
Nasceu em julho de 1935, no povoado Pedra Grande, município de Coroatá – Maranhão. Em 1955, sua família foi expulsa das terras em que viviam há gerações. Depois disso, foram morar em Bacabal do Mearim, em terras devolutas, de onde, também foram expulsos por um latifundiário.
Assim, Manoel Conceição entrou na luta por terras livres. Em 1958, sua família chegou à cidade de Pindaré-Mirim, município situado 177 km ao sul de São Luís. Em 1960, participou de um curso do Movimento de Educação de Base (MEB), que tinha como temas: sindicalismo, política e cooperativismo. Com a ajuda de outros trabalhadores rurais criaram 28 escolas com o intuito de alfabetizar os trabalhadores da região de Pindaré. Era o tempo das Ligas Camponesas, dos sindicatos rurais e da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT). Tempo da Juventude Estudantil Católica (JEC), da Juventude Universitária Católica (JUC), da Juventude Operária Católica (JOC) e da Juventude Agrária Católica (JAC), formadas por uma geração de jovens generosos e sonhadores que vislumbravam um país sem fome, sem miséria, sem opressores e oprimidos e que lutavam pela construção de uma sociedade que queria terra, educação e dignidade.
No Regime Militar, ajudou a fundar os Sindicatos de Trabalhadores Rurais pelo sul do Maranhão e Bico do Papagaio. Posteriormente, contribuiu na organização de entidades importantes no cenário nacional, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), o Texto redigido pela geógrafa Debora de Assumpção e Lima. Partido dos Trabalhadores (PT), o Centro de Educação e Cultura do Trabalhador Rural (CENTRU), O Centro de Estudos do Trabalhador Rural (CENTRAL) e a Escola técnica Agroextrativista (ETA). Sofreu diversas perseguições e tentativas de assassinato. Em 1968, Apesar da repressão, em 1968, a polícia invadiu a subsede do sindicato em Anajá – que tinha mais de 4 mil filiados – e na ocasião Manoel da Conceição foi baleado na perna direita e novamente preso. Depois de seis dias na prisão, sem tratamento médico, parte da perna teve que ser amputada. Na época, José Sarney, governador do Maranhão eleito pela UDN, tentou silenciar Manuel, que respondeu: “Minha perna é minha classe”.

Isso não o impediu de lutar e seguir caminhando em suas reflexões sobre direitos humanos, reforma agrária, sobre o mundo, o socialismo, a conjuntura dos movimentos sociais, agroecologia e a questão agrária brasileira.

Que a força e a vitalidade que Manoel da Conceição superou muitos atos violentos, conservadores, cercas do ódio e do latifúndio, continuem nos inspirando a refletir sobre a questão agrária brasileira, sobre o que queremos semear em nossas terras.

Manoel da Conceição, Presente!

17 de agosto de 2021.

Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB)
Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia (ANPEGE)

 

*Texto redigido pela geógrafa Debora de Assumpção e Lima.

 

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