Nota da AGB em defesa do sistema de cotas raciais para ingresso na pós-graduação e pelo cancelamento da portaria nº 545/2020

A Associação dos Geógrafos Brasileiros vem a público manifestar seu total repúdio a Portaria nº 545/2020, assinada pelo ex-Ministro da Educação Abraham Weintraub que, em um último ato perverso, revogou a Portaria Normativa nº 13, de 11 de maio de 2016, do Ministério da Educação – MEC, de forma a dificultar a introdução das Ações Afirmativas na Pós-Graduação.

Desde já, é importante afirmar, que não existe justificativa jurídica que respalde a revogação da Portaria Normativa nº 13, de 11 de maio de 2016, uma vez que em 2012 o Supremo Tribunal Federal declarou a Constitucionalidade das Políticas de Ações Afirmativas. Além disso, a Portaria nº 13 serve como ferramenta de incentivo para continuidade das Ações Afirmativas na Pós-graduação, visto que estas também se mostram desiguais no acesso à população negra, indígena e aos portadores de deficiência. Desta forma, a revogação da referida portaria representa mais um ataque de viés ideológico às políticas que visam a equiparação das condições entre negros, indígenas e brancos em nossa sociedade.

Cabe destacar, que esse não é o primeiro ataque às populações Negras e Indígenas por parte do governo Bolsonaro e seus apoiadores.  Falas e atos como: “Odeio o termo ‘povos indígenas’, odeio esse termo” e “Eu fui em um Quilombo em Eldorado Paulista (…) o afrodescendentes mais leve lá pesava 7 arrobas, não fazem nada, acho que nem para procriador servem mais”, proferidas respectivamente, pelo ex-Ministro da Educação em reunião ministerial no dia 22 de abril de 2020 e pelo atual presidente república durante a campanha eleitoral de 2018; o desmonte que a Fundação Cultural Palmares vem sofrendo com a nomeação para a sua presidência de um defensor do fim das políticas de ações afirmativas em todos os níveis e esferas; projetos de leis que visam acabar com as “cotas raciais” na graduação feito por seus apoiadores no âmbito federal (PL nº 1531/19) e no Estado do Rio de Janeiro (PL nº 470/2019); os movimentos antidemocráticos promovidos por apoiadores do atual governo e fortemente inspirados em manifestações da Ku Klux Klan; entre diversas outras ações, são alguns dos ataques realizados e/ou incentivados por aqueles que estão no comando do Governo Federal e seus apoiadores – que exemplificam a institucionalidade do racismo no Brasil.

São ataques que visam não só manutenção do status quo em uma sociedade racista que historicamente negou o acesso de negros e indígenas a educação e convive nos dias atuais com o genocídio da juventude negra e indígena, mas que buscam retirar através de um projeto de desmonte da educação os pequenos avanços conquistados nas últimas décadas.

A promulgação da Portaria nº 545/2020, na calada da noite, pelo atual governo, é mais um instrumento que busca corroborar de forma sistemática no processo de elitização dos programas de pós-graduação nas universidades brasileiras. E ainda faz com que a Universidade Pública mantenha-se um ambiente marcado por privilégios de raça, gênero e classe destinados para uma fatia da população brasileira, impactando tanto no corpo discente e docente, quanto na produção científica e consequentemente no conteúdo de seus currículos formativos.

A Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB) mais uma vez reforça o seu compromisso com a luta antirracista na Educação, na Geografia e na Sociedade e defende: Nenhum passo atrás! Nenhum direito a menos! Ademais, assim como diz a referida Portaria normativa nº 13, compreendemos e defendemos que “a adoção de Políticas de Ações Afirmativas na graduação não é suficiente para reparar ou compensar efetivamente as desigualdades sociais resultantes de passivos históricos ou atitudes discriminatórias atuais”.

 

São Paulo, 18 de junho de 2020.

Associação dos Geógrafos Brasileiros

Para ter acesso a nota em .PDF, CLIQUE AQUI.

1Comentário

Postar um comentário